Obstetrícia e Medicina Fetal

Hipertensão Arterial na Gestação

A hipertensão na gestação, também conhecida como Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG), talvez seja a pior doença que pode ocorrer com uma gestante, e configura no Brasil a principal causa de morte materna. Infelizmente ainda não é dada a atenção necessária na maior parte dos serviços de pré-natal do país, e todas as gestantes que estão nessa situação devem exigir para si um pré-natal diferenciado.

Ela incide entre 5 a 10% das gestações. Se caracteriza por aumento da pressão arterial (PAS >140 mmHg e ou PAD > 90mmHG), edema (inchaço) e presença de proteína na urina (proteinúria) a partir da 20 semana da gestação. Pode receber o nome de pré eclâmpsia em sua forma mais leve e em alguns casos pode evoluir para eclâmpsia (forma mais grave da doença que se manifesta com crises convulsivas e alto risco de morte materna).

A elevação da pressão precedente à gestação ou diagnosticada antes de 20 semanas de gestação é definida como hipertensão arterial crônica.

Prevenção

Para se evitar as formas graves, em especial a eclâmpsia, as gestantes de risco devem ser identificadas durante o pré natal e acompanhadas de perto. Pacientes primigestas (primeira gestação), pacientes hipertensas crônicas, pacientes com antecedentes de pré-eclâmpsia grave, pacientes obesas, pacientes diabéticas, gestantes antes de menos de 18 anos ou após 35 anos e gestações gemelares carcterizam-se como grupo de risco. Esses fatores associados ao doppler das artérias uterinas podem indicar a necessidade de estratégias para prevenção do avanço da doença. Uma vez identificado o risco, o uso de pequenas doses de ácido acetilsalicílico (AAS) e o uso de carbonato de cálcio podem ser utilizados.

Recentemente estão sendo analisados marcadores bioquímicos como o PLGF (Placental Grown Factor, ou fator de crescimento placentário) e o sFlt-1 (fms-like tirosine-Kinase-1) os quais tem sido descritos na literatura como marcadores promissores na detecção precoce da pré-eclâmpsia. Basta coletar uma amostra de sangue materno entre a 11ª e a 14ª semanas de gestação. Esses marcadores parecem promissores, porém estudos adicionais são necessários antes de serem adotados no rastreamento universal da prática clínica.

Pacientes com pré-eclâmpsia leve devem fazer repouso, realizar controle diário da pressão arterial e controle do peso. As consultas devem ser no máximo a cada 15 dias ( se o quadro estiver estável) e semanais no terceiro trimestre. Deve- se ainda realizar exames laboratoriais com maior frequência, dada a alta gravidade desta doença. Medicações anti-hipertensivas são utilizadas para o controle dos níveis pressóricos. É importante salientar que nem todas as medicações podem ser usadas na gestação devido ao risco de fazer mal ao feto. Comumente são usados alfametildopa, pindolol e hidralazina. A depender da gravidade do caso, as dose mudam e também podem ser associadas mais de uma medicação.

Os casos graves são aqueles onde ocorre piora dos exames laboratoriais associado ou não à sintomas como cefaléia, dor na topografia do estômago e transtornos visuais, até o quadro mais grave de convulsão (eclâmpsia), podem ser necessário o uso de medicações anticonvulsionantes, sendo a mais conhecida o sulfato de magnésio. Ainda nas formas graves e fatais da doença, deve ser citada a síndrome HELLP, que se caracteriza por uma série de alterações metabólicas inerentes ao alto nível pressórico, incluindo hemólise (destruição de glóbulos vermelhos), lesão do Fígado que se reflete em aumento das enzimas hepáticas no sangue e destruição e diminuição das plaquetas.

Tratamento

O tratamento obstétrico se impõe quando a gravidez alcança o termo (acima de 37 semanas) ou quando se verifica piora do quadro clínico. A via de parto (normal ou cesárea) dependerá da gravidade do caso. A cesárea será a via de parto preferencial em situações instáveis e quando as condições obstétricas estiverem desfavoráveis.